sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sombra e Chuva. O sonho para antes de amanhã.

Victor Rocha Nascimento

Como que por moda, num relance, um recorte, um romance, uma sorte, um momento perdido em voltar a sonhar. Desgraça é saber que, no fundo, se é.
Ela passa, só passa. Ela fica, só fica. Eu me banho em sua graça que se espalha no vento. Sou refugo, sou tormento, sou parte, sou resto. Sou público e ela o espetáculo. Sou amargo e ela o veneno.

Quem dera ter de perto esse sorriso
e que por sarro, cerrassem a mágoa e as dobras das mazelas.
E quando jeremiar a perdida doçura num castigo
Me descobrir refeito, enrolado nas suas canelas.

De receio se faz graça. Ainda que toque, que role, que rock, que choque, ainda que mais e que pouco me reste, é da graça do sonho e do sabor infantil de esperança que me nulo.
Desde o nascimento me tomou a fera, saqueou alma do corpo, me fez bobo, sereno, sonhador. Me fez preso, dependente de amor. Me fez homem, me fez gente.

Por certo despeito, o feito foi e eu teria lhe rendido
Para eterno desgosto, hoje me trombo
Sem ter, nem tentar, nem achar, me tornei cativo
Resta o sonho de choro doce e de encontro.

E aquela boca, aquela roupa, aquele cabelo, o sorriso no canto dos olhos. Aquele cheiro. Quem dera ser para mim. Que por instante, por defeito. Que por acaso, por brincadeira. Mesmo que fosse por outro caso, alguma besteira. Quem dera aquela voz no canto da orelha. E se um dia o sonho fosse sonho e de realidade despertasse outra vida, outra história. E se, em alguma verdade, desse para ser...

Ainda que minha dor seja dor de pouco valor
E que seja arrogante por amar minha própria mente
Espero em todo que possa ser em alguma
E que me surpreenda de meu pessimismo descrente.

Corpo na chuva, cadeia em vácuo. Já preso em rótulos, tomado por votos, gasto de mãos e cuspes devotos. Já sem esperanças, no sonho e nas lembranças está a felicidade, maior de todas as artes, que por pouco existe e se desfaz em tão pouco. Que é rouca e triste a própria. Que me engana por instinto, me faz seguir e tentar ser feliz, mesmo sozinho.