quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mergulhado. Do Maravilhoso Mundo dos Sonhos, as Sementes Chamam..

Victor Rocha Nascimento

O que pode ser a loucura se não tudo que há de mais puro no homem?
Quando finca o sentimento no pé da boca, algo mais incomoda no canto esquerdo da face. O sangue acumula e solta, fazendo saltar as veias como se eletricidade em campos de cobre. Quando vira as pelotas para luz, arde mais do que lembrava. Estava preso, exaltado, exausto e trancado.
Siga sua sina saboreando o sumo saldável do suor salgado, sentindo o sumo e o sal, sentindo a sopa selada na língua e o bafo amargo colado. Acorde. Não deixe o pobre lodo dominar seu corpo. Vá ver o sol, por mais quente e ardido que possa ser o lado de fora.
Tão pálido, tão vil, melado no recanto da noite que não pensou deixar um dia terminar. Volta para o soro e segue o sonho vibrando e vibrante nas entranhas, viciando num gozo amargo de paixão narcisa. É violado pelo próprio ser e deixa que o mundo se vá para ter o seu e apenas seu. Chega perto da morte, mas falta coragem assim como medo. Prefere sonhar.
Que endureça o sebo no estofado, nada importa quando não se está mais aqui. Nada melhor do que perder a noção do poder divino e viver ao bel do próprio. Agora já são dois lados de fora e nenhum interessa. A história continua como procurava e ninguém parece se importar.
O lugar é calmo, escuro e um som constante, agudo, corta o mundo ao fundo. Não há cheiro e a cor é pouca. O belo sorriso da jovem é transparente. As situações pretéritas recorrem como lágrimas, escorridas em pelo. O absurdo faz sentido e acomoda. O sentimento é de choro feliz. Dura mais do que poderia e acaba em rompante, mas convida ao matrimonium. O tom é expressionista e os cantos desbotam. Não há conforto maior do que a loucura. Não há respeito maior do que em nossa casa.


Quanto mais corre... corre. escorre, colhe... corre
Mais profundo está.
A caverna já é visível e o agudo irrita os passos, confunde o mundo. ainda assim, agrada.
Quem será que vai econtrar?

domingo, 22 de janeiro de 2012

Entre culhões e bifurcações. Os jeitos que aprendi.

Victor Rocha Nascimento

Como ser forte, meu caro?

Por um caminho de escolhas que eu rabisquei
Fiz pensar que a dor podia me salvar
E um coração de pedras velhas que eu fatiei
me dava forças para continuar
Marcava os punhos da saliva amarga que babei
Acertava flechas contra o peito para reforçar
O sentimento atrofiava pela minha própria lei
E um fio de sangue me impedia de enchergar

Como se tornar um homem forte? Perguntava.
Cada vez mais forte, era cobrado. Quer engolir o mundo? Tenha culhões.
A cada dia entendia sem ouvir meus próprios gritos de liberdade
A força que tinha era séria, turra, madura e sem vontade.
Quando precisava, quando me chamava, era de outra fonte que brotava.
Sempre fui mais forte, mais do que tento, mais do que posso, quando precisam.

Por uma sorte louca que eu nem sempre busquei
Gastava as pernas para compensar
E a ideia torta que tanto sonhei
Me esmagava os sonhos antes de firmar

Dizia que dois tipos de força existem. Aquela dos que não sentem, e a dos que sentem demasiadamente. É fácil escolher, difícil é segurar.
Enquanto a primeira torna lixo tudo que é outro e supre toda fraqueza,
a segunda protege os outros e é cheia.

Existem sempre as duas, por natureza, e ambas contagiam. Porém uma se exercita, se prepara e melhora. A outra é como uma força oculta que por vezes aflora.

Difícil não é ser forte. Difícil é ser. E não existe força sem um abraço apertado ou palavra de carinho e incentivo vez ou outra. Se na solidão também existe força, é porque a luta, no mais profundo, é frio.

Memórias de Celular

Victor Rocha Nascimento

Um estupro mental lhe rabiscou os sentidos quando ela coroou o sentido real do que havia dito. Sem grandes revelações, ao passo de que mesmo fazendo certo não vira novela, a vida é um cubo escuro, sem graça, e a força que fazemos por um pouco de sombra banaliza ainda mais a senda partida.
Sem grandes revelações, sem grandes fins, sem roteiro ou predestinação, a natureza selvagem, mórbida, covarde e original da realidade fede a coisa nova.

 

Pobre Lazaro, que escrevia seus contos devastados e insinuantes na precária memória da agenda de mensagens de um celular. Um dia, ao ser roubado, perdeu seu encanto de poema junto com a filmadora, internet e telefone. Tempos depois, por sorte ou acaso, resgatou. Ao publicar então uma tão sonhada obra, que aos mais, lhe creditaria prémios dos melhores na boa literatura e um renome sonhado no popular, perdeu do nome a autoria num engano. Sua poesia, tão forte e tão viva, já era há muito conhecida. Tinha antes sido funk.


-Olha só que bonitinho! Um peixe saltando d'água!
-Quando salta assim é sinal de agonia, de que está para morrer.
-Nada mais belo do que ver a dor do outro. Pena que de dentro ela vicia e pode até matar.


Se um olho fecha, acaba com um mundo que continua vivo no olho de lá.
Quando se esfrega, embaralha em miúdos. São cores difusas sem muito para dar.
Quando aperta, esmaga o segundo, mas o silêncio ainda custa a chegar.


Estar sozinho só para sentir o ar. Refletir. Buscar num cantinho alguma paz. Sentir, tocar, conhecer, amar. Viver, ponderar, Crescer, Buscar. Fuder, limpar. Cair, gozar. Pensar. Pensar. Ir até. Voltar. Melhorar. Compartilhar. Encontrar, combinar, marcar, focar, estudar. Perder. E a vida já não dá mais tempo.


Há de ser puta, a puta, por completo. Já a santa há de ser santa, menos na cama, onde deve ser ingênua, nervosa, puta e gostosa. Deve ser gosmenta. Foguenta e fogosa. Deve ser só para um. Ser rara, impetuosa e sem passado. Deve ser sonho, predestinada. Deve se descobrir e concluir. Apenas de um. Se for pelo contrário, melhor nem ser, ou será de otário, pois é como chamam o homem que vai ter.


Se julgo demais as pessoas é por terem me deixado por muito tempo só, acostumado em um mundo que é meu e só meu.


É que quando estou para sentir, apenas curto os sentimentos, sejam quais forem. É sempre bom terem em si o sumo da vida e saber do que é feito.


 

Como contava o velho Sebastião, só cabra dos mais machos da terra fincada em vida e dos olhos esbugalhados para poder encarar o tal do outro, lá. A história, que na mentira pregava medo nos moleques atentados, vai ganhando força juntamente na medida em que vai virando verdade.
Era uma noite escura, de uivo de lobo e riso de besta, quando a criatura foi vista pela primeira vez.

E o mundo vai acabar

Victor Rocha Nascimento

Eles eram só mais um grupo de amigos. Desses, que de criança fazem festa, se apresentam e brigando grudam. Na adolescência viram hippies, roqueiros, nerds, blogueiros, caricatos e misturados, mas fechados e inseparáveis. Abertos e sinceros, assim como felizes, somente entre si. De jovens, recolhem do bolso os caquinhos de tempo para aproveitar nos bares, bebendo, petiscando e jogando todo o assunto perdido na mesa, como num poker, tentando sentir calor velho na madrugada apertada, querendo saber que ele ainda existe.

Até que um dia, após a glória de serem, deixaram. é normal, todos sabiam, esperavam, mas preferiam não ver para tornar eterna sua juventude anil. E foi, por mais que tenha passado. foi a melhor possível, por mais que possa ter sido igual, por mais que tenham sido tristes, sofridos, idiotas, os momentos foram todos igualmente perfeitos. Passaram.

Cada vez mais distantes, foram trapaceados pelo tempo e alfinetados por tramoias de amizades banais, fracas, coleguismos. Mesmo sem querer, por parte alguma, todos ficam ocupados, fechados agora em si e no futuro. Todos só sonham, lembram e sentem. por sorte, ainda estão todos em todos. E das fotos antigas ficam as fotos. Das cartas, o cheiro saiu, mas sentimento segue gravado e colorido. Se em alguns anos perguntarem por eles, por aquelas pessoas, não se sabe por que porta a saudade vai tentar explicar e jamais vai ser suficiente.

E coisa que arranha, amassa, transporta, transborda e incomoda... Mesmo assim, faz a gente lembrar mais da gente. Faz se encontrar, se reviver, voltar a amar.

Mas antes que passe e possa e termine, no texto deixo continuar, exatamente da forma encantada que sobrevivem nos corações de cada um. Não há lugar melhor para serem eternos que na lembrança, no carinho, e na grafia. Pois, se já ficou claro o tipo de amigos, a história segue, sem tremer ou pular parte nem voltar. Deixa que ela ainda é.

Eis que eram amigos...

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E o mundo vai acabar.

sábado, 21 de janeiro de 2012

A esqueleta requebrando outra vez para moi


Pois que veio a mim a Morte, cheia daquela ginga, rebolando sedutora, bafo de canela, e mandou o velho papo, desse jeito mesmo, de quem não têm história para contar, mas pelo tempo de convívio, se acha amigo a ponto de resmungar qualquer coisa sem sentido só para entrar na treta.

"E aí? É hoje ou não é?"

Ora, mas olha só que abuso. Coisa tosca. Quem manda dar intimidade? Agora vem ela com sua foice roxa-brilhante, cheia de guizos saculejantes querendo se achegar feito parente distante que quer empréstimo de pagamento dispensável. Respondi que não estava para papo e que hoje era dia de cantar, viver e, quem sabe, arriscar uns passinhos de baile...

A encapuzada nem ficou uma fera, já está acostumada, como fazem os assessores que ligam pro jornal querendo atenção, implorando para vender pauta e escutando mentiras óbvias enquanto espirram amor e doçura. Ela sabe que nunca pode mandar, depende de mim para seu trabalho sair bonito na folha. Mas se não chegou a hora em definitivo, chamo a coitada só por mania de prosear mesmo... Vai entender. Mania. Sabe mania?

É prosa de cá, prosa de lá... Vez ou outra rola um flerte, uma bicada... A gente se entende, mas nunca se toca. Ela lá, no trono de ossos em seda e linho mostarda, e eu aqui, na minha confortável sarjeta, que é de onde saco as ideias infames para montar meu reconhecimento da vida. Também quando ando pela madrugada, ela me segue, resmunga, mas aí conto com outros fantasmas mais interessantes para entreter.

Pois que, dessa vez, dessa vez que ela me veio, eu estava com saudade, mesmo sem amor nem rancor, ficou uma saudade da sabedoria mórbida que ela costumava me trazer. Com sua pita molhada, me encarava com um sorriso dois terços e eu, seguro, sorri inteiro.

Argumentei uns favores, comentei uns beijos, lembrei do passado e, juntos, concluímos que não era necessário nem um recomeço. Basta só continuar. Seguir esse caminho é bom, é certo, e é demais. Aí que ela se danou de nervoso por ter que concordar e abafar o próprio gozo que quase aprontava de vazar. Ora se havia outra resposta, nem a praga da peste conseguia encontrar.

Com bochechas rosadas, a esquelética foi saindo de fininho, envergonhada, piana, pensando que já não sabia me agradar. Eu deixei. A morte é bem madura, sabe se virar e não vai cair em nenhuma tristeza tamanha, faça favor... Nada de drama, senhora. Segui comendo meus bons livros e esperando que migalhas do passado alimentem o que sou pra mais tarde eu saber como chegar.

Ela me espera. Sempre espera. É bom que a gente troque esses encontros para não ter susto depois. Na hora que for, é só levar. Nós ainda podemos ir batucando um samba, afinados como somos em companhia. Por enquanto, deixa que ela me inspira, me toca e me lapida com seu papo de cobra morta, sobrando um assovio de quem avisa.



Victor Rocha Nascimento