quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Baile do Kraken ou Destino Errante

Victor Rocha Nascimento

Só resta navegar;
E para que viver em um mundo cheio de certezas e de verdades prontas? De que serve viver se equilibrando entre dogmas e paradigmas se podemos brincar de descobrir nossas próprias verdades?
Mais vale é navegar, viver sem saber o que está para surgir num próximo horizonte. Esbarrar em toda ilha, toda alma e toda história perdida pelo mundo, aprender tudo sobre elas e cavar bem fundo até que se seja surpreendido por um novo tesouro.
Resta navegar para entender;
Entender que, na vida, as certezas se comparam ao ritmo das águas e, em um dia salgado de chuva, podemos terminar no fundo do oceano. O ar nos falta e morremos junto com as esperanças, até que aprendemos a boiar. Navegando, como na vida, não se pode deveras encontrar um início ou um fim.
Navegar é viver, realmente;
Se se entregar à coreografia das águas, que sempre dançam no ritmo dos cantos das ninfas sereias, restará gozar do belo até a morte. Notamos, sempre muito tarde, que nos envolvemos tanto com sua música, que já não temos controle para respirar. Os pulmões vazam no encontro com o silencio.
Nos resta respirar aventuras;
Viver da busca do desconhecido, navegar para explorar. Não temer as ondas, os cantos, as doenças ou os monstros. Navegar é sempre se deparar com um novo horizonte na morte de um anterior. Pouco do que era certo há algumas horas ainda existe. Devemos sempre encontrar um meio de agarrar o novo para tornar as perdas mais suportáveis.

Navegar é dançar com um Kraken ao som das belas sereias, de olhos bem apertados mas de coração aberto, ainda que por estar rasgado.
Só resta navegar, porque viver não tem sentido se esperarmos por um.
Deixo que a corrente do mar dite o meu caminho, que o incerto me complete com respostas. Depois de sobreviver a tantas tempestades, aprendi a não reclamar.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Um que passou sonhos

Victor Rocha Nascimento

Era um mundo muito distante, tão distante que podemos acabar sentindo-o mais próximo pelo simples fato de que não importam distancias se conseguimos ver além delas, quando podemos ver nas maiores diferenças os pontos fundamentais para que sejamos sempre tão iguais.

Um mundo imundo que se resumiria no instante de um segundo abrigava um sugismundo sujeito sem sombra, nem futuro e nem idéia. Este sujeito, num segundo instante, logo depois de dormir, roncar, chorar e cair, resolveu, por um estranho impulso, caminhar.
Caminhando ele via o mundo, era ignorado. Ele via os rostos porcos que já não se acreditavam, viam suas dores e os sentia. Sentia que, por segundos, em outros instantes e em outras vidas, viveu como eles e sofreu seu sofrimento. Mas agora ele dava um passo, e sem notar, criava uma idéia, e sem entender, dava luz a um sonho.

Em seu sonho ele achou uma saída de seu mundo sujo, criou um ofício, vendeu fantasias.
Formando ações ele criava energia, gerava alegria e agia um mundo novo que nem ele sabia que dentro de todos ainda existia e havia se escondido por medo das rugas frias que aos poucos se formavam em homens de pele e osso e sem coração.

Ele virou vendedor de sonhos. Seus clientes vinham de toda a parte, eram de todas as cores e de todas as idades. Eles vinham lutando contra aquilo que foram, por toda a vida, obrigados a aprender, tentando encontrar em novos sonhos uma forma de entender tudo que os tirou de uma outra vida, ainda mais antiga. Eles compravam idéias para curar feridas.

Aos poucos, o novo ofício virou moda, quem antes consumia, passava a vender, dar e partilhar seus próprios sonhos. Um mundo novo se criava ofuscando os olhos, queimando as faces medrosas, as mães aflitas, o povo cansado, os pais acomodados e as famílias perdidas.

O sujeito, então, finalmente entendeu que com seus sonhos ele gerava outros e criava oportunidades para realizá-los. Com seus sonhos ele mudava, crescia, melhorava e ajudava. O mundo mudou, a vida por fim apareceu. O povo sorriu, a alegria brotou e o novo cresceu, mesmo que só um pouquinho... Suficiente para dar espaço de outros novos nascerem e serem novos e crescerem.

Porém, o que ninguém sabia, ou esperava, ou pensava não saber, ou ainda, preferiam esquecer, é que este mundo tinha donos, tinha reis. Estes reis viviam de planos e planejavam mais uma vez. Eles viviam de lembranças, de energias e se fortaleciam de outras vidas. Agora, viam a grande chance de um banquete suculento se formar.

Eles pararam, prenderam, sufocaram e comeram. Espremeram o sujeito até não restar uma só gota de sonho. Mataram a esperança e roubaram o herói. Mudaram a cidade, as ruas, as famílias, perderam a linha, perderam suas caras e borraram os mapas.

O povo se viu perdido, sem herói, sem caminho, sem notar que poderiam seguir sozinhos. Deitaram e caíram, sorriram mais uma vez para depois chorar.
E o povo esperou mais uma vez a vida passar, imaginando que suas vidas, na verdade, não passavam de fantasia. Um devaneio louco que por pouco eles iriam acreditar.

Eles voltaram a esperar com risos podres, poucos dentes, um novo herói, um novo sujeito que vendesse sonhos ou qualquer tipo de esperança. Voltaram a esperar sem saber que a vida se escondia dentro deles e ainda não tinham percebido que neste mundo imundo onde já se nasce vagabundo sem rumo, caindo em um buraco sem fundo, não se nasce apenas para sofrer. Se nasce para dar primeiros passos e mudar e lutar e... Quem sabe, um dia, para não se esquecer de vários sujeitos, de vários mundos. Daqueles que lutaram e mudaram mas foram derrubados pelos donos do jogo, mas antes de tudo, pela burrice de seu próprio povo.

sábado, 23 de maio de 2009

O futuro perdido e a diplomacia de Lula

Victor Rocha Nascimento


Ontem, em visita a Istambul, Turquia, o presidente Luiz inácio Lula da Silva quis fazer mais uma graça em meio a um seminário internacional. A idéia deve ter partido de uma tentativa de descontrair a reunião, mas não foi exatamente o que ocorreu. Os empresários ficaram no mínimo surpresos quando Lula se pôs a explicar o que seria o termo "Turco" no Brasil.

"No Brasil, tem uma coisa interessante", disse Lula no seminário. "Apareceu alguém vendendo algo na porta de um brasileiro, ele diz que é um turco." O presidente disse ainda que todo tipo de vendedor ambulante no nosso país recebe este nome. Depois deste desastre diplomático, concluiu demonstrando seus conhecimentos geográficos: "Não sei se é o turco nascido em Istambul, nascido na Arábia Saudita ou no Líbano". Turcos não tem qualquer relação com árabes, nem mesmo compartilham a lingua. As pessoas vindas da Síria e Líbano para nosso país, que são muito poucas, acabam sendo chamadas de turcos por seus passaportes similares, todos do Império Otomano. Porém, para um presidente, esta confusão deveria estar bem esclarecida.
(Escute a explicação de lula)
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As eleições se aproximam e vejo o mundo passando por um momento primordial de grandes mudanças. A crise está abafada, mas não morta... pelo contrário, ela é incansávelmente remediada sem que se encontre uma formula para o seu fim. As grandes potências estão fragilisadas, procurando um caminho para respirar. Um ótimo momento para que um país cheio de riquezas mal aproveitadas e que se vê emergindo aos poucos, possa dar um pulo, assim como os EUA e o Japão em outras épocas. Mas, para isso, teríamos que contar com um lider forte, inteligente e de certa forma até rigoroso, que faça o necessário pelo país. Uma mente brilhante que não se incomode por ter que criar um nome para as próximas eleições, mas que saiba criar esse nome sem ter que ficar se equilibrando entre muros de classes sociais.

A vitória de Lula nas urnas foi um grande exemplo e orgulho para o povo Brasileiro, mas já passou. Já provamos para nós mesmos e para o mundo que um homem sem estudos, que foi lider sindical e que conta com toda a magnífica história de Lula, pode chegar ao cargo de presidente. Agora, temos que pensar mais no momento mundial e no nosso país. Sim, Lula fez sua parte, cosias boas e ruins, e négo fortemente que sua eleição tenha sido um erro. Me arrisco a dizer que foi o presidente certo para o momento do país. O fato é que, neste momento de incertezas globais, não consigo ver ninguém, nem nenhum partido, que apresente a capacidade e a confiança para aproveitar a oportunidade de crescimento que nos é dada com sua devida grandeza. Nem Dilma, nem Serra, nem mesmo Lula que já se declarou interessado nas eleições de 2014.

O Brasil carece de uma cosia a mais, de uma mente brilhante no comando, como já teve por algumas vezes a exemplo de GV. Não estou aqui defendendo o homem ou suas atitudes, mas é inegável a inteligência e astúcia de Getúlio. O País carece de um presidente que tenha vocação, um presidente que saiba ver, lá no fundo dos problemas, as oportunidades que surgem e não um presidente que quer entrar para a história como um piadista, como o cara mais engraçado das reuniões do G20.

Fico, então, esperando ancioso, mas já sem muita esperança, pelo presidente perfeito para este momento.