sábado, 29 de agosto de 2009

“Humano, demasiado humano...”

Victor Rocha Nascimento

As vezes da vontade de pular fora ou sei lá.

É tanto conflito bobo, tanta birrinha, tanta palhaçada. Não sei se isso é para mim. As coisas são tão simples e parece que as pessoas se divertem complicando tudo.

Ok, pode ser soberba ou prepotência e eu tento não ser assim, mas têm horas que é foda aguentar.

Será que eu ainda não me achei, não achei meu grupinho? Será que é falta disso? Ou será que é só uma longa crise de mau humor?

Talvez eu esteja voltando à era das reflexões e, de tanto refletir, tudo passe a ser banal. Isso não deve ser muito bom para o meu social... Mas tanto faz também.

Daí vem a incomoda escolha de sempre entre a verdade e a felicidade. Seria melhor ser ignorante e feliz? Seria melhor me divertir, me magoar, me envolver com coisas idiotas só para me encaixar mais nesse mundinho?

Ai, ai... Que bosta de sentimento qualificador. É tão complicado encontrar bons amigos para conversar... Imagine então uma mulher para dividir a vida.

Melhor calar a boca e deixar tudo para lá. Qualquer hora isso passa e eu volto a ser eu. Ou não.

sábado, 22 de agosto de 2009

Menina esperta

Victor Rocha Nascimento

Pobre menina, que agora caminhava sozinha pela noite. Seus tamancos roçavam o asfalto molhado quebrando um silencio de quilômetros. Nas mãos um caniço velho, de pesca, e nas costas uma mochilinha com tudo o que dava para carregar.
Na cabeça, a menina levava as lembranças de uma família que já não existia e tentava encarar com força a vida que ainda lhe esperava.
A menos de um mês seu pai padecera de doença e nesta manhã sua vózinha nem levantara da cama para lhe servir o café. Não carecia ter mais de nove anos para entender que estava sozinha no mundo.
Cada arrasto do tamanquinho de madeira era um novo início, uma nova força que deixava para trás o desespero. Deixa, deixa... Deixa para lá o que passou, a vida está no que ainda vem.
Tão forte essa menina! E tão esperta!
Sabia , não sei como, que na vida as escolhas e os fatos são apenas caminhos para os momentos e que nada é eterno. Não existem fins se não em livros e filmes. Ela não deveria se iludir com um estilo de vida que tinha e muito menos esperar um final feliz. Apenas momentos. Momentos que são passageiros para o tempo mas infinitos nas mentes.
A menininha guardava seus momentos e esperava por outros, que certamente viriam. Recordava das comidas da avó, do afago do pai e da falta que fazia não conhecer a mãe.
Lembrava do dia em que a vózinha lhe deu um vestido branco com fitas azuis e num tecido suave como jamais havia sentido. Foi o unico vestido que teve até então e era o mesmo que a cobria agora, combinando com os tamanquinhos.
Ela lembrava de como ficava feliz quando o pai chegava do trabalho e havia vendido muitos peixes. Pelo brilho dos olhos cansados do seu velho, já sabia que a noite seria de festa e que comeriam bem no dia seguinte.
Maldita essa tal de amebíase que o levou. O médico não deu muita esperança, mas também não se esforçou para salvá-lo . Não da forma como faria a menininha. Claro, o médico não tinha tantos momentos com o pescador e a falta de lembranças cobria a importância afetiva do homem.
Com a avó, foi tudo tão rápido que a garota preferiu não esperar. Foi logo seguir sua vida e ver no que dava.
Esperar? O que poderia esperar? Não havia nada. No que se agarrar? E para que? A certeza é o triunfo temporário dos ignorantes. Que venham as descobertas! Que venham os momentos! Que venha a idade e venha a vida! Que venham os próximos passos.
A menininha arrastava seu tamanquinho barulhento de madeira pela madrugada escura, na procura de um mar.
A meninha ia pescar.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Prá moreninha entrar

Victor Rocha Nascimento

Roda, roda, morenhinha, que te gosto é por inteiro e que esse mundo todo abre as portas pra ver tua beleza entrar. Corre descalça pela terra e deixa as certezas pra lá. A vida só começa agora e está pronta pra te inundar.

Roda, minha morena, que na vida cê tem é que rebolar. Muda nada e tudo muda, e é só rodando que dá pra se encontrar. Sente o vento e canta as ruas, engole o mundo e aprende a dançar.

Rabisca mapas e faz turismo, anda sem rumo e acha o seu lugar.

Deixa que as pedras venham e brinca com elas, como de amarelinha, que é pro problema passar.

E quando tudo for só tristeza, e a vida cair em sentido, lembra que sempre terá alguem pra tê velar.

Mas corre, corre muito, que é pra lagrima secar.

Colhe histórias e cultiva amigos. Nem com o tempo a gente entende o valor que isso tem.

Entra com pose e graça nesse mundo que já tá pronto, mas que você vai ajudar a mudar. Vai com coragem e só olha pra trás se for pra se empolgar. Cante as vitórias e trague as derrotas até se embriagar. O mundo vem cheio de mentiras prontas, e cabe a você não se deixar enganar.

Roda, roda moreninha. Roda que a vida é feita pra amar. E se na roda cê ficar tonta, não se preocupa que o amor é mesmo um caminho pra gente sofrer, mas com graça tamanha que vale a pena retentar.


quinta-feira, 13 de agosto de 2009

E nada muda!

Victor Rocha Nascimento

Escrever num ataque te mau humor sem sentido da nisso:
(Não tentem em casa)


Nada muda.
Muda a voz. Muda a vida. A vida muda agora fala mas ainda assim ninguém escuta sua voz agúda.
Muda o mundo, o mundo gira. A vida passa nas voltas das rodas do mundo, mas é a mesma roda imunda que se vê na praça todo dia.
Mudam amigos, mudam cores, mudam idades, mudam amores. Mudam pais e filhos e mudo eu, muda você e nada muda.
Mudam idéias, mudam classes, mudam certezas e verdades. Mas a raridade não muda.
A mente muda, o homem muda e o destino muda, mas desde o início o fim é todo igual.
Muda o dia, muda a hora, muda a história e nada muda. É a mesma merda de sempre.
Muda o líder e o estado, o culto e o alienado, e as vadiagens do senado, e nada muda.
Não muda o choro, não muda o cheiro , não muda a dor e nem o desespero, ainda que mude tudo, tintim por tintim. Não mudam os gostos, nem os sonhos, nem a sede, nem a fome. Não muda o exagero.
Ainda que tudo mude, que todos mudem, que se emudeça o mundo, e ainda que o mundo fale, nada muda.
O velho muda o novo e é o velho quem mais muda, antes mesmo de se mudar; de encontrar uma caixa para se guardar. O Novo aprende e muda, e muda, e muda, e muda até virar o velho, até voltar ao início, até ser igual, e se muda, quando muda, é para poder imitar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mais hora, menos hora...

Victor Rocha Nascimento

-Tenho paciência e sei esperar. Mais hora, menos hora, a tua hora vai chegar - Dizia o relógio apertando o pulso do jovem rapaz, quase fundindo rádio e ulna. Contraia as artérias, impedia o fluir do sangue e parecia anunciar um leve esmigalhar de ossos.


-Ora, quem é você para dizer ou desdizer qualquer coisa? Não passa de um relógio! Nada além de uma ferramenta criada para me servir. -Retrucava o jovem, apoiado no vigor da idade e caminhando longe das responsabilidades. - A minha vida está só no começo e vai demorar muito para encontrar um fim.


-Não poderia concordar com tal afirmação, tão pouco juizada. Como deve ter esquecido, não sou, tão somente, um simples objeto de faxada. Não me limito ao metal dos ponteiros nem à tinta dos números, muito menos à atadura emborrachada que te aperta e prende. Sou o próprio Cronos, sei o que fez e o que pretende. Sou rei do que era e do que será. Mando na leveza da gravidade ao empurrar o suicidado no concreto e da mesma forma mando que a gravidade seja forte parar assegurar que a beleza da folha custe a tocar o piso, sendo assim, melhor admirada. Eu faço o novo se tornar velho e o dia ser de sol ou chuva. Sou eu quem dita as regras e tu te limitas a subordinar, sem direito a retrucas.


-Agora é o senhor, digníssimo rei, que se apressa ao falar. Não sabe, pois, que foi o homem autor do tempo e que como seu criador se torna também seu mestre? Se quisermos podemos decidir viver como hippies anarquistas e o tempo de nada nos servirá.


-Se equivoca falando nisso, meu caro. O homem não tem controle do nascer do sol e nem da lua, tão pouco da vida, ou da morte. Logo, não controla o tempo e muito menos é seu fundador. Por sorte! O Tempo é criação única e exclusiva de Deus e apenas Ele, se assim desejar, pode intervir. Caso outro, eu comando e nada podes fazer, se não te acomodar.


-Se falamos nas leis de Deus, ao homem é dada a possibilidade da vida eterna. Como pode ver, seus argumentos apenas ajudam a minimizar sua própria importância, caro Cronos. Deve tomar mais cuidado com a possível pena de meter os pés pelas mãos, com tanta petulância. Se o próprio tempo é temporário, o senhor não tem controle nem de si mesmo. De nada serve, beira a inexistência, o desuso. Todo poder que pensa que tem é só o que nós lhe dignamos ao bel prazer, coisa pouca.


-Vejamos então, na verdade dolorida dos dias, quem é o senhor da nossa relação. Criação e criador pouco importam. Quem manda e quem obedece só se sabe ao observar a prática. Posso eu, muito bem, não ter o poder que digo, nem o que penso ter, mas não podes escapar de minhas prenuncias, e as certezas e verdades absolutas que te rogo vão com júbilo te corromper. No mais, não ligo. Tenho paciência e sei esperar. O tempo vai passar e tu nem vais ver. Em meio aos atrasos, aos encontros, às mudanças, aos cronogramas e horários, sempre vou estar observando, rindo e lembrando. Mais hora, menos hora, a tua hora vai chegar. Pois bem, deixe para lá, já que até a finada hora, te resta apenas aproveitar.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O mais batido de todos

Victor Rocha Nascimento

Tenho que confessar que não é um assunto que me anima muito. Falar do amor e tentar explicar já é tão banal, tão comum, que não vejo mais grande utilidade nisso, sobretudo para um ultraromântico assumido como eu. Mas, pelo andar das coisas, acho que se um dia vou ter que falar disso, é melhor falar agora, que estou privado de qualquer tipo de influencia. Pois é, estranhamente, não estou apaixonado. Ah, e mais estranho ainda... Não sei se quero ou não estar (o normal seria não querer).
Digamos que me vejo mais lúcido agora que não tenho ninguém que me anime muito e nem mesmo que me encha os olhos (ando mais carnal que nunca) e, pelo que me conheço, é melhor aproveitar logo o momento. Sendo o caso outro, tantos já se dedicaram a falar de seus amores e seus sentimentos, e já falaram tão bem, tão melhor do que eu poderia e ainda assim não puderam se comparar com o real sentimento, que eu não me atreveria a tentar.

Pois bem, estando em um momento incomum, talvez valha a pena. Não sei bem do que falar... Mas deve ser uma coisa entre um estudo frio e uma recordação carinhosa do que já passei.
Por um tempo, cansado de sofrer por garotas que mal sabiam meu nome, ou que achavam melhor me chamar "amigo", e essas coisas que todos nós já passamos, imaginei essa história de amor como uma doença, um vício, e me orgulhava de falar muito mal dele para todo mundo que passava, na procura ingênua de um remédio. Uma coisa sem sentido que de uma hora para a outra agarra na gente e que temos que tentar nos curar. Pois é, acho que esta idéia não era errada em sua totalidade (Ironia ter, nesta época exata, encontrado o maior amor que já sentir e ser correspondido por algum tempo).
Não sei bem o que faz essa loucura toda começar. Alguma afinidade, uma necessidade, uma esperança... De algum ponto parte e, depois, resta à nossa própria carência completar o fado. Não há outro sentido ou explicação. Somos tão frágeis, carentes e sonhadores que depositamos de uma vez, em uma só pessoa, tudo o que esperamos para nossas vidas. Partindo disso nos decepcionamos constantemente, o que não poderia ser diferente. Ninguém jamais poderia ser tão perfeito quanto desejamos, como podemos imaginar e como dizemos aos ventos em nossas paixões.

Ah, não vou me embolar ao tentar explicar o que penso de amor e paixão, apenas que são coisas muito distintas mas que compartilham suas bases. A paixão ocorre de forma infinitamente mais regular do que o amor. O amor é um apego absurdo e sem fundamento onde você deveras pensa mais na outra pessoa do que em você mesmo, é o bem querer puro e divino. Já a paixão é coisa totalmente egoísta, igualmente sem grandes fundamentos, onde se acredita que a pessoa tem que ser sua e ponto, ainda que o infectado por ela (paixão) não possa notar isso, o que é outro sintoma.

O amor faz falta. E acho que só agora, de cabeça fria, posso notar isso. Parece que se tem muito a oferecer e ninguém para receber. Todo um potencial desperdiçado. Falo por mim... O que é um ultraromântico sem um amor? Sem um referencial? Nada.
Então posso falar de boca cheia que as lamúrias do amor são bobagem. Só se reclama do amor por estar totalmente infantilizado e mimado pelo mesmo, um outro sintoma (dá para fazer uma lista). "Oh, como eu queria não estar apaixonado". Besteira. Nada é melhor do que estar apaixonado, mas com isso vem o problema de nunca poder ser correspondido da mesma maneira. Sejamos lógicos, isso é absurdamente improvável, mas é melhor não ficar achando impossível. Comparado ao que se sente, é um problema mínimo.

Na faculdade eu aprendi que o amor não passa de um mito. "O mais belo dos mitos já criados" segundo o professor. E para falar a verdade, faz muita lógica, e eu acredito fielmente nisso, o que é muito fácil. Me falta sentir. Mas também, se mito ou não, não faz a mínima diferença. Que graça tem não levar o amor a sério? Mais uma ironia: Agora que estou 'curado' (temporariamente, creio), não sei mais se é tão ruim estar doente.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Quando chega o fim

Victor Rocha Nascimento

A mulher acordou já pouco disposta a olhar para o lado. Suspirou profundamente como se isso ajudasse a tornar as cosias melhores e pulou da cama empurrada por uma injeção de animo falso. Logo foi barrada pela tonteira. Se arrumou calmamente lutando para que o tempo não passasse e o dia custasse a começar. Mas, como sempre, quando mais ela enrolava, mais o dia passava e era melhor ser rápida.
Saiu do banho e abriu o armário. Dentro dele, recordações que costumavam ajudar em tempos como esse. Mas dessa vez era diferente. Não havia briga, nem ciumeiras e nem uma leve insegurança. Era diferente de tudo.
Ao lado das roupas de sempre, o velho namorado, bem no fundinho do armário com cheiro de guardado. Este dera lugar a um marido, também já desgastado cheirando podre, usado além de conta. sem graça. O cheiro nauseante irritava, quase sem sentido.

O marido levantou sozinho, o que já não fazia diferença. Escutou os rangidos da mulher no banheiro e repensou se deveria mesmo levantar. Empurrado pela obrigação ele se jogou da cama e tentou se aprontar logo, como se isso ajudasse a fazer com que os momentos desconcertáveis passassem mais rapidamente. Fazer com que sua existência fosse o máximo passageira.
Sentiu a mulher mais próxima, com seu perfume de passado, o que ainda lhe remetia a uma velha infância boa e enjoativa. Parecia certo que o passado deveria estar preso no pretérito, mas que o importunava sempre no presente e não se restringia às lembranças.
Não houvera briga, nem motivo algum. Partira de uma falta de desejo duradoura, que nada tinha a ver com as outras. Tão pouco era causada pelas marcas do tempo em suas peles, resultando num flagelo à beleza da mulher. Era diferente. Algo sem explicação. Coisa rara.

Na correria matinal (ou fuga, como preferir), por um segundo, se esbarraram. Fitaram seus corpos inteiros rapidamente até que os olhos puderam se encontrar.
Algumas lágrimas pareciam surgir, mas recuavam na medida em que não sabiam se brotariam por dor ou felicidade. Algo tão inexplicável quanto o amor, que os dois por anos sentiram, estava acontecendo, mas era diferente.

Misticismo? Genes? Hormônios?
Não existem culpados, não existem regras, apenas a sorte de acontecer simultaneamente para os dois. O que ainda me atrevo a dizer que é mais raro do que o nascimento de um amor verdadeiro e recíproco numa primeira vista. A reciprocidade do momento era coisa mais rara, e os anos de convivência ajudaram as ex-almas gêmeas a entender tudo isso num breve olhar.
Talvez não haja mais nada que possa unir tristeza e felicidade assim, desta forma tão plena e simultânea. É a morte ligada a um novo nascimento. É a liberdade vomitada para fora de casa. É como o filho que se torna homem, ou a corrupção das certezas frente as descobertas.
Mais uma relação havia terminado. Outro amor acabara de morrer.