segunda-feira, 14 de junho de 2010

Do monte. Do todo. De si.

Victor Rocha Nascimento

Montes de saliva que escorrem pela boca. Mirava o frango sem respirar, mantendo ritmo nos pulsos, correndo o sangue em todo corpo.
Montes de sonhos que escorriam dos olhos. Mirava a moça sem respirar, mantendo ritmo nos pulsos, correndo lava em todo o corpo. Transbordava pelas orelhas.
Imigrante de nuvens de algodão. Caçador dos temidos monstros, das quimeras mal-humoradas com espetos nas patas. Rei do mundo que fundou. Caçador de milagres, de motivos. Imigrante de nuvens de escolhas. Rei de si. Rei de nada.
Curtia o sabor do jeito, do cheiro, da ilusão. Acompanhava de perto o contraste do imperfeito, escrevia contos por frustração.
Sonhava amar. Se forçava a sonhar.
Era por ela nele mesmo. Era por ele, indignado, em choro seco. Era temido por roer a lógica, deslumbrado por emoção. Todos cantavam sua glória, mas não havia quem pudesse suportar sua existência nem entender sua solidão.
O homem não passa de corpo empurrado pelo que se contesta. O homem é massa cravada em homem, regada em homem, moldada em homem e temperada de resto. É um tudo em que nada compete e que em nada se faz. Naturalmente perverso no mesmo.
Só mais um homem. Mais um perdido em meios, entre perdidos, entre questões. Apenas quer achar um lugar, um motivo. Apenas quer ser, ainda que não seja. Apenas quer e quer um motivo para querer.

Litros de sangue escorriam pelo peito. Mirava o futuro sem respirar, desregrando o ritmo dos pulsos, correndo marcas de tempo por todo o corpo.
Litros de sonhos escorriam pelo peito. Mirava a alma sem ter mais ar, sem sentir o ritmo dos pulsos, correndo em seu próprio corpo. Transbordava sobre todos os outros.

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