domingo, 19 de dezembro de 2010

Na espera fracionada o inevitável encharcado.

Victor Rocha Nascimento

Quando chegou em casa, passou primeiro pelo cheiro. Já envenenado de odor, tomou ciência de que ela estava no quarto como quem espera pelo dono para se divertir.
Dobrou as bainhas da calça enquanto também dobrava os minutos para ampliar a aflição da espera. Fazia tempo que não se viam ou pelo menos aparentava fazer. Ele ajeitava a blusa já molhado em emoção, mas sem deixar escapar um suspiro que fosse notável. A indiferença fazia parte da sua sedução. Ela também sabia esperar, ainda que de mãos suadas e unhas roídas, sem fazer barulho.

Cadenciando o desejo, ele aproveitava os segundos de dor. Ela angustiava com o coração espetado no ponteiro. Munido de opções, optava por não ser austero ao menos dessa vez e fazer do encontro uma piada doce. Ela, perdida da mente e corpo do rapaz, sonhava em se lambuzar do que lhe faltava. Era amargo enquanto não lhe vinha. Era quente. Já fervia.

Caminhava ele pela casa, sem os sapatos, escorrendo pelo piso frio, para fazer evidente sua presença. Ela mordia os panos da cama como se os ruídos dele fossem dias. Dava voltas e evitava, ainda que preocupado em incomodar. Contornava tapetes e chinelos. Ela era quente por natureza e o chão gelado contrastava com seu calor. Ele sabia. Hesitando, abriu a guarda antes do marcado.

Os olhos travaram e já era tempo. Ele, decidido em esbanjar a espera num próximo instante glorioso, entendeu que ainda valeria mais esperar. Ela, torturada pelo incerto, se jogou sobre seus ombros estalados e arranhou seus peitos como quem cava segurança. Estava certa de tudo e desfilava na falta do que não tinha julgo. Ele protelava no poder do artigo. Dominava meio que sem saber como.

As mãos se tocavam de leve e os corpos rosnavam ritmados um no outro. Pescoço torto, boca larga, pele macia e vapor nos olhos. O cheiro, o medo, a falta, o desejo e o carinho emplacavam em fraternidade. Os corpos se conheciam, tremiam, ansiavam e a mente firme forçava a espera. Quanto mais se fazia demorar, o sabor regozijava quieto por sugar. Mas o tesão virava raiva, o carinho descontrole e o certo atordoava.

Corpos colados, mãos firmadas, e cobranças verbalizadas. A espera só é boa quando saboreada mutuamente. Ela não entendia, implorava, contornava, redimia, estapeava... Ele sabia que iria dar merda. Melhor acabar com o sofrimento e cortar de vez a brincadeira que se revelara paralela. De corpos colados, beijados, ele finalmente cedeu, de jeito tão suave que mal se podia ouvir. A resposta também foi em silencio, só para casar. Assim finalmente terminavam o que na verdade tinha início. Selados, tornavam-se mais e seguiam só os dois.

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