terça-feira, 4 de novembro de 2008

Um Destino Fabuloso

Victor Rocha Nascimento

Dirigido e escrito por Jean-Pierre Jeunet (Delicatessen e Alien - A Ressureição), O Fabuloso Destino de Amélie Poulaim (Le fabuleux destin d'Amélie Poulain) é uma bela fábula contada pelo cinema, que tem como plano de fundo as incomparáveis ruas de Paris.

O filme, que foi cuidadosamente trabalhado, conta com belíssimas inovações técnicas. Uma delas é a bela fotografia de Bruno Delbonnel, que, impecavelmente, mostra Paris com cores vibrantes e clima onírico. Outra é a trilha sonora, Yann Tiersen, que usa a música de forma muito urbana e animada, misturando sons acústicos estonteantes quase artesanalmente, com instrumentos que são colocados de forma inesperada, como uma máquina de escrever, por exemplo. A união destes fatores deu ao filme grande reconhecimento e rendeu 5 indicações ao Oscar (2002), entre elas de Melhor Filme de Língua Estrangeira, Roteiro Original, Fotografia, Som e Direção de Arte, concorrendo com obras-primas como O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel.
O filme nos leva a conhecer, também, o trabalho da cativante Audrey Tatou, que vive Amélie em sua estréia no cinema. A atriz leva seu carisma ao filme e contribui para um clima de serenidade e fantasia. Audrey dá à Amélie um olhar penetrante e um charme travesso. A atrís, na época com 23 anos, já demonstrava aguçados sentidos de fotografia e ritmo, o que também influenciou para o êxito do filme. Talvez pela interferência da atriz, a personagem possa ficar eternizada na mente dos espectadores.

A mistura de comédia e drama, assim como a de fantasia e realidade, não impediram que o filme fosse leve, um dos méritos do diretor. Ele nos leva a esquecer do resto do mundo e ficarmos presos à história, acompanhando atentamente a trama que, em toda sua riqueza, é contada de forma rápida.
A história gira em torno da personagem de Audrey, e nos deixa a par de toda sua infância conturbada, na qual ela não pode ter relações sociais e sofreu ao ver de perto a morte da mãe. Amélie acaba tendo que viver num mundo de fantasias e cresce como uma pessoa tímida, o que não a impede de tentar melhorar a vida das pessoas a sua volta. Ela passa, então, a atuar como uma justiceira, fazendo, quase imperceptivelmente, seus atos de bondade e de punição aos que, em sua concepção, o merecem. Desta forma, ela modifica a vida de todos que passam por ela, ainda que em certos casos, nem conheça bem estas pessoas.
No desenrolar da história, vemos Amélie ajudar um velho pintor, que vive recluso por sofrer de uma doença congênita. Em outro momento, ela leva um senhor a recuperar uma caixa de objetos da infância, relembrando momentos marcantes de sua vida e servindo a ele como forma de impulso para continuar em frente, mesmo com seus problemas. Amélie ajuda até mesmo seu próprio pai a superar a morte da esposa, e encaram seu sonho de viajar, mesmo que sozinho. Porém, ao se ocupar ajudando vidas alheias, Ela se esquece da sua própria vida. O espectador, nesta altura da trama, questiona-se a cerca de qual seria, afinal, o fabuloso destino desta garota tão atípica. Enquanto não chega a resposta, as traquinagens da garota garantem deserção ao público.

Narrado de forma envolvente e incomum, e dando um tom a mais de fantasia, o filme não chega a ser alienador. Pelo contrário, mostra como a simplicidade e o altruísmo podem enobrecer e melhorar várias vidas. A Amélie adulta, não é uma garota que vive num mundo de ilusões, como era na infância. Agora, mais do que todos de seu convívio, ela sempre está atenta ao que se passa no mundo à sua volta e pronta para fazer o que for preciso para melhorá-lo, mesmo ausentando-se dele. Sua timidez, que não deve ser referencial para ninguém, é devidamente “punida” com o desenrolar da história.
Não é uma história para ser vista uma só vez, pois se trata de uma fábula que parece mais encantadora a cada releitura, mexendo com a emoção e com a fantasia das pessoas. Amélie inspirou várias outras obras (como a série Pushing Daisies) e criou um estilo próprio, mostrando ao mundo o melhor do cinema francês atual.




2 comentários:

Anônimo disse...

muito boa essa critica victor, fiquei a fim de ver esse filme... parece bem interessante, mas diferente, outro dia vi 007, pq nao tinha nenhum outro que prestasse no cinema, nossa! que porcaria, eu ate cochilei... deve ser o pior de todos 007 que vi e olha que nos outros dei mtas risadas, tipo rambo... 4?

Jess Weiss disse...

amo esse filme...

"Não é uma história para ser vista uma só vez, pois se trata de uma fábula que parece mais encantadora a cada releitura, mexendo com a emoção e com a fantasia das pessoas."
super concordo!