quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dolci occhi

Victor Rocha Nascimento

É de carência mas também é de vida.
Os toques da carne se aprofundam nos sonhos mais belos e deprimentes. Ela não me beijou, mas o queria como eu mesmo não posso explicar. Era minha e eu dela. Mas eis que vem o sol de uma nova manhã queima o sonho em brasa.
Não é amor, nem prosa, nem verso. É a busca do sentido, a busca pelo completo.
E não tem motivo. Nesses casos nunca tem. É uma admiração, uma fantasia, uma empolgação. Também não digo que não esteja apaixonado, não poderia. É coisa bem diferente, tal que humilha meu vocabulário na busca desastrosa por alguma definição digna ou um conceito coerente.

Não é todo dia que dois olhos, perdidos na multidão, encantam a alma de um pobre desiludido como eu. Só os olhos, como um tiro no meio da testa. Depois vem o jeito, o riso, o andar, o estilo e me fazem de frouxo. Mas de início, só os olhos. Me apaixonei por um olhar. Quanto a isso não posso fazer nada. Nem negar, nem fugir, nem fingir. São eles que me forçam a desviar a atenção e maltratam meu orgulho. Os olhos, como aiesthesis.
Pode ser que haja alguma coisa de absurdo nisso, mas é a verdade. Não sei muito sobre ela. Não sei sua história, não senti suas mãos, por pouco ouvi sua voz... Mas aqueles olhos...
Não faz muito sentido, mas, estranhamente, me parece muito lógico. Podem dizer que não é provável, mas foi au concour para mim. E pode não ser comum, tampouco normal... Mas eu também não sou.

É, garota... Cê me pegou de jeito!

Tenho a mania chatinha de acreditar que, pelos olhos, consigo chegar mais perto da verdade das pessoas. As famosas 'janelas da alma' não apenas me intrigam como, certas vezes, conversam comigo em bom tom. Se a dona desses olhos não tem, deveras, algo de muito especial, não sei mais no que acreditar.
Talvez tenha só me hipnotizado, mas já é tarde. Tô preso no efeito desse brilho e já não sei bem como resistir. Já nem quero resistir. Eu quero é ver no que vai dar.

Algumas vezes tive a sorte grande de cruzar olhares. Ter a certeza de que os meus olhos, enquanto admiravam, também eram encarados. Quando essa sorte rara dana de acontecer, meus sentidos se contorcem. É como um aperitivo do paraíso. Fico bobo, perco a guarda, me bestifico. Que poder tem essa guria, que só de olhar já me bamba as pernas? Logo eu, que bato no peito pela minha própria segurança.

Já nem sei se escrevo para me declarar ou para me consolar com as letras. Ora, que de consolo só me serve uma resposta. Uma alegria ou uma cara quebrada, tanto faz.
Eu tenho é que agir, mas não faço idéia de por onde começar. Tenho medo e anseio teu encontro. Procuro caminhos que cismam em se fechar. Os típicos são toscos e talvez seja melhor me contentar em espiar, de longe, o seu olhar, do que o risco de passar o resto do tempo sofrendo as dores de uma cara virada.
Poderias fazer isso comigo? Me privar da doçura dos teus olhos? Me livrar do prazer de mirar teu brilho? Poderias ser tão pouco piedosa?
Se um dia Deus me fez gamar em olhares, por certo não era para deixar, logo esse, escapar.

"Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra."


3 comentários:

シモネ - SVMiranda - disse...

É isso de olhar sei bem como é, só posso pensar que todos nós passamos e de certa forma na vida por essa. Umas temos as alegrias das realizações e outras não alegre em certas proproções mas também fica a alegria do algo puro intocavél inquebravél... onde só você somente você sabe o quanto o respirar e o apenas vivier do outro ser já lhe basta para ser feliz.
Lindo texto!

Mari V. disse...

LINDO!


(você já sabe do resto e tal...)

jessfw disse...

Olhos me encantam...