quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Apertado

Victor Rocha Nascimento

De dentro dum quarto abafado, de paredes cada vez mais apertadas e ritmado pelo som irritante do ventilador, imagino a vida do lado de fora. Enquanto essa poeira velha sobe e entope minhas narinas fracas e sangrentas, imagino o ar doce e o quanto doce deve ser uma poeira nova.
Um mundo quase tão grande e pleno quanto o que anseio existe do lado de fora, e me convido a desvendá-lo com olhos de criança, mas o quarto quente insiste e prende me trancando na simplicidade do mesmo. Seriam as poucas brechas? Seria o medo? Seria a contradição causada pelos princípios ou talvez os princípios que contradizem entre sí?
Sei que o momento é unico e a oportunidade se vai como o pensamento. Sei que para todo o fogo que me arde por dentro existe um alívio no mundo dos homens e das sociedades... Então que bosta ainda me faz estar trancado nesse quarto? Onde estão os amigos e os desconhecidos e as descobertas? Onde está o mundo e as novidades que preciso para me ter completo? Será que realmente alguma hora posso me sentir completo?
Acho que minha deficiência não parte de saciar desejos mas de equilibrar a carência e o prazer. Não quero estar completo, até mesmo porque julgo este estado uma utopia. Tenho que estar sendo nutrido constantemente de novidades, e nunca ser satisfeito. Tenho que estudar, descobrir, viver... Acho que foi por aí que eu encontrei a minha forma de gastar a vida.
Digo "gastar" sem culpa... A vida é como uma caixa de areia ou uma garrafa de vinho que a cada instante vai sendo consumida. Nos resta ter a sapiência de saborear cada momento da melhor forma até que a garrafa se esgote, gota por gota.
Diante deste devaneio do tempo volto a lembrar que estou preso nas quatro paredes do meu quarto. Uma bosta de um filminho na tv, que por pouco não notei que passava, o ar quente a a poeira da minha intimidade. Acho que as implicâncias do meu pulmão e das minhas narinas nada mais são do que um estimulo para que eu mate o ócio com os dentes e corra cego.
Já é imprescindível, vou sair para tomar um café ou sei lá. Nem que seja sair para pensar, sair para não fazer nada, só pra respirar outro ar.

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