quarta-feira, 17 de março de 2010

Faro deslocado

Victor Rocha Nascimento

Imagine um vento o suficiente forte para espremer a sua alma contra o canto esquerdo do corpo.
Imagine um vento tal que pudesse confundir o verde e o branco dos teus olhos. Um vento que limpasse a mente e o ódio.
Imagine um vento quente e confortável, que a pele não sente, mas inveja. Que te empurra feito pluma por sonhos vizinhos.
Imagine que esse vento é soprado de uma boca macia, molhada, direto pra sua orelha. Imagine que percorre o pescoço.
Um vento puro como jamais poderemos ser. Um vento de embaralhar ideias, de retalhar motivos, de decretar o eterno.
Ele vem do nada e faz o certo chorar passado, faz o errado buscar sentido, cria novidade ao desinformado.
Imagine e entenda. Sinta e entenda. Cheire e entenda. Quem já não degustou do sopro e quem não vai um dia? Quem não espera ansioso pela próxima vez?
Quem não reconhece quando o bafo, tão leve, percorre o corpo, dá voltas no centro do peito e se esconde no interior do estômago comprimido? Não há dúvidas.
Só há dúvidas....
Só há o vento... O sopro... Tão breve, tão intenso. Só há o novo ainda que inconveniente de tão comum.
Lava a fumaça, lava a alma, leva a ideia. Traz desejo.
Vento do suspiro, do cansaço, do trago amargo. Vento raro, raso, marcado em laços. Sopro da vida confundido em pecados.
Imagine um vento que invade as narinas e que entorpece os pulmões de uma farteza imensurável. Imagine o quanto sacia.
Imagine esse vento soprando em você. Imagine o calor, a falta de contexto. Imagine o momento e o segredo.
Sinta. Respire. Cheire. Expire esse vento. Transpire.
Qual a cor? Qual o som? Qual a textura? Qual o gosto? Qual o cheiro?

2 comentários:

Deise disse...

Não concordo com o título, o Faro não está deslocado. Ao contrário disso, existe neste texto uma forma forte e muito contundente de se valorizar a vida e de uma forma poética, dramática e verdadeira. Me passa a idéia de que este sopro chega a ser divino, como o sopro de um novo ser chegando ao mundo.Estas metáforas são muito claras, apesar de bem dispostas no texto e muito singelas, chega ao ponto da tristeza e ao tempo da alegria, da dor das lembranças do passado que com um sopro retornam as nossas mentes e por vezes acompanhadaos de cheiros, que inundam nossas mentes como um ciclone alucinante, que "lava" a alma, os desejos, e demais sentidos. Um sopro que traz calor e que alivia, que apesar de invisível, transparente, é essencial ao nosso viver. Um texto de grande beleza, de idéias nostálgicas e futuristas, e principalmente ideias de hoje. Parabéns.

Jess Weiss disse...

que poético!
amei...


ps: hihihihi meu sobrenome é Faro xD