terça-feira, 30 de março de 2010

Do Velho Amante Réprobo

Victor Rocha Nascimento

Entre goles do vinho mais barato, amassando na ponta dos dedos um retrato, reclamava aos céus um amor perdido, confundido com um ainda não encontrado.
Nas lamúrias de uma noite drogue, não importavam os que ouviam, os que se irritavam nem os que riam. Importava chorar a dor de um sentimento tão puro quanto vazio.
Faltava ela. Não no bar, nem em casa, mas no mundo. Restava o choro de cachorro bobo, velho, abandonado. As sobras de quem perdeu toda uma vida atrás de um amor inalcançável.
Entre histórias tristes das quais a vida condena, se escondiam contos que o palestrante mesmo inventa, amarrados nos buracos entre as palavras, para dar sentido e alguma alegria à uma vida de tanta desgraça.
Ora mais um rabo-de-saia, olhos lustrados prum coração em migalhas. A antiga empolgação noivou com o medo. Olhos fechados, língua presa na cachaça. Da esperança nasce desespero.
Implorava outra dose, mas já vinha o sol e o bar fecha as seis. Foi botado pra fora mais uma vez...
Chorou o amor de testa no concreto. Sujou suas roupas de boteco. Arranhou a pele. Perdera todo o dinheiro do mês.
Num sonho bobo de criança, mergulhado em segurança, esbarrava com sua ninfa dançando por nuvens de anis. Agora era o seu reinado, o seu mundo encantado e ela era coroada imperatriz.
Acordou quase mendigo. Triste, desiludido. Mas, de sobra, alguma esmola. Catou as moedas, abraçou sua dores e foi embora.
No caminho ainda tonto, tão fedido e tão bronco, se atentava nas mulheres transeuntes pra injetar sua perfeição. Chegando em casa se arrumava, se limpava, se alegrava e assoviava com charme uma nova canção.
Logo nascia um novo amor, um novo conto e esperança. É de sonhos que se vive e das paixões nunca se cansa. Para não morrer na desgraça, ele sempre se renovava e enganava toda sua experiência, comodamente branda.
Sempre é hora de renovar. E como se não fosse tudo um ciclo, o boteco sempre vai estar lá, com um copo meio vazio e uma cadeira reservada, esperando ele voltar.

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