sábado, 1 de janeiro de 2011

Bonum Novum

Victor Rocha Nascimento

Antes do instante aclamado e mitificado os sonhos eram perfeitos como se devem os sonhos. A alegria e o tremor eram esperados e avassaladores. Tudo poderia funcionar, e só. Poderia ser simples pois era onde se encaixava o perfeito. Mas o complexo veio se meter na obra acabada. O sonho foi apunhalado pela realidade, que é inveja pela incapacidade de ser.
Quando passou a noite, e a aurora se fez clara-cega, me cortou um suspiro no peito. A solidão me afoga no próprio que sou, que me faço e que deixo escapar.
Quando num canto a festa parecia tortura, me restava continuar sonhar e dentro de mim tudo parecia mais aceitável, mais belo. Mas o sonho deveria ser eterno. Perdi os sentidos e os amores. Perdi o gosto, o gozo, a voz.
Cheio de esperança vã, entendi que era mais uma noite para esquecer, para deixar de existir. Cheio de mim mesmo e na falta de todo o resto, não sabia como me consolar. Sentia o rosto molhado não sei se por choro ou por ter os olhos esbugalhados para a luz e o vento. Sentia um nó na garganta e no peito e a certeza de ter obtido o incurável.
Agora, por amor e por sentir o inevitável do tempo, supero como quem perde um fim. Me embaraço na falta que se deva a quem esquece para suportar a perda. Fico com a falta. Com a verdade cômoda e incômoda que me coube fixar. Nada aconteceu. Eu ainda estou esperando.

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