quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Enquanto só, no recato de Sete Noites

Victor Rocha Nascimento

Rolo, enrolo, no calor em cama de frio mórbido, esperando a passagem da solidão enquanto me moldo, me afogo, contorço, reprovo, comporto.
Como que pelo mesmo motivo, uma carta que é escrita amor não deixa que saia o cheiro nem mesmo rasgada, cai flor, ainda que morta, renegada. Já chulo, abandonado, levo cheiro dela e olhar triste de quem só pode procurar na memória incerta.
E dos corpos colados, dedos cruzados, bocas forçadas, unhas fincadas e medos cravados, fica o sonho trincado e a noite inacabada.
Do mais íntimo e puro desejo, acordou de um sonho tão belo quanto viciante. Pensou logo em voltar, depois esteve triste por tê-lo perdido antes mesmo do beijo. Congelou o instante.
É de longe o amor, de perto sentido, tesão, recostado em afago me encontro zonzo, roído. No seu sorriso quase sinto, quase sou, quase brinco que nem sei. É êxtase, furor. Nos seus olhos fico em virtude, em apneia zombadoura, embreagado. O coração quase nem bate, quase explode, é rapioqueiro e lesado.
Quando olha assim, olhos cortados, sangrando. Olhos de pranto, de virtude, olhos perdidos, cerrados, eu quase acho que não é para mim.
Quando cobre o rosto e larga os cabelos, quando senta na grama e se aperta nas frestas, eu também sinto, mas por pouco acredito que é assim.
Quando corre os olhos, esconde a cara, cora as bochechas, franze o nariz e alarga o sorriso, apenas troço que seja de atrevo, vergonha de cruzar a vista na minha. Seria sonho ou loucura pensar que sim.
Pode ser medo. Natural, se pode ser amor. Sinto provável que se percam os olhos, sobre tudo os meus, se cruzarem com os seus. É capaz de resultar num misto de choro e gozo.
Pode ser por nada. Motivo banal. Pode ser nojo, desprezo. Pode ser raiva, brincadeira. Pode ser outro. Pode ser que não seja. Coisa da minha cabeça.
É de incentivo que me ergo, alimenta meu vício.

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