domingo, 23 de janeiro de 2011

A semente do termo

Victor Rocha Nascimento

Olha que agora, assim de susto, me alfineta uma vontade de escrever de ti.
Olha que a vontade é de ler sobre ti, de falar de ti e de partilhar uma folha e um texto.
Mal posso esperar para ver o que sai se te ponho pra escrever junto a mim.
A vontade que me deu é de misturar os pensamentos e embolar as letras, fundir ideias e a nós mesmos.
A vontade que me salta era de juntar nossos sorrisos, juntar nossa alegria, desse jeitinho assim. Queria te conhecer ainda mais, saber se me quebro e se completo bem os seus pensamentos, maus ou puros, perdidos... Sonharia em cantar sua poesia se escrevesse para mim. Sonharia em recitar sua alegria projetada em mim.
E num primeiro instante, logo após o romance, nasce um além que recorta o espaço, retarda o cansaço, maltrata as penas. Num amor completo embaralham rimas, se escreve cego, se dedica um futuro, compra briga com o incerto.
Se me escolhe, assim, como felizardo, para dividir um retrato, um diário, uma carta, um segredo, uma vida, só posso dar o máximo de mim. Serei leve, dedicado, breve, aplicado, complexo e rasteiro, prolixo e certeiro, mas só escrevo até o meio, abrindo mão de um fim.
Se é para um filme, um roteiro, sou ato, maltrato e me largo, me faço, relato, reviso, dirijo, critico, mudo, completo, crio o mundo do jeito certo para merecer sua história na ponta do lápis. Se der para um livro, me viro, me sirvo, me espremo, exponho, até tremo, numa obra mal feita, perfeita, inacabada, rasurada com o que pode haver de melhor em mim.
Olha que de agora em diante eu só quero escrever e ler e reler e saber de ti. Olha que de agora em diante eu peço que me escreva em mim.
A pessoa é sua e o tempo sempre. Me retalha, me suja, me rasga. Completa cada espaço da minha pele com tinta brasa. Reedita minha mente. Só escreve e me arranha. Me corteja, me tatua, me sangra, mas nunca sai. Abusa e me larga em migalhas.

Deixo eu o que quiser de mim.

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