domingo, 22 de janeiro de 2012

Memórias de Celular

Victor Rocha Nascimento

Um estupro mental lhe rabiscou os sentidos quando ela coroou o sentido real do que havia dito. Sem grandes revelações, ao passo de que mesmo fazendo certo não vira novela, a vida é um cubo escuro, sem graça, e a força que fazemos por um pouco de sombra banaliza ainda mais a senda partida.
Sem grandes revelações, sem grandes fins, sem roteiro ou predestinação, a natureza selvagem, mórbida, covarde e original da realidade fede a coisa nova.

 

Pobre Lazaro, que escrevia seus contos devastados e insinuantes na precária memória da agenda de mensagens de um celular. Um dia, ao ser roubado, perdeu seu encanto de poema junto com a filmadora, internet e telefone. Tempos depois, por sorte ou acaso, resgatou. Ao publicar então uma tão sonhada obra, que aos mais, lhe creditaria prémios dos melhores na boa literatura e um renome sonhado no popular, perdeu do nome a autoria num engano. Sua poesia, tão forte e tão viva, já era há muito conhecida. Tinha antes sido funk.


-Olha só que bonitinho! Um peixe saltando d'água!
-Quando salta assim é sinal de agonia, de que está para morrer.
-Nada mais belo do que ver a dor do outro. Pena que de dentro ela vicia e pode até matar.


Se um olho fecha, acaba com um mundo que continua vivo no olho de lá.
Quando se esfrega, embaralha em miúdos. São cores difusas sem muito para dar.
Quando aperta, esmaga o segundo, mas o silêncio ainda custa a chegar.


Estar sozinho só para sentir o ar. Refletir. Buscar num cantinho alguma paz. Sentir, tocar, conhecer, amar. Viver, ponderar, Crescer, Buscar. Fuder, limpar. Cair, gozar. Pensar. Pensar. Ir até. Voltar. Melhorar. Compartilhar. Encontrar, combinar, marcar, focar, estudar. Perder. E a vida já não dá mais tempo.


Há de ser puta, a puta, por completo. Já a santa há de ser santa, menos na cama, onde deve ser ingênua, nervosa, puta e gostosa. Deve ser gosmenta. Foguenta e fogosa. Deve ser só para um. Ser rara, impetuosa e sem passado. Deve ser sonho, predestinada. Deve se descobrir e concluir. Apenas de um. Se for pelo contrário, melhor nem ser, ou será de otário, pois é como chamam o homem que vai ter.


Se julgo demais as pessoas é por terem me deixado por muito tempo só, acostumado em um mundo que é meu e só meu.


É que quando estou para sentir, apenas curto os sentimentos, sejam quais forem. É sempre bom terem em si o sumo da vida e saber do que é feito.


 

Como contava o velho Sebastião, só cabra dos mais machos da terra fincada em vida e dos olhos esbugalhados para poder encarar o tal do outro, lá. A história, que na mentira pregava medo nos moleques atentados, vai ganhando força juntamente na medida em que vai virando verdade.
Era uma noite escura, de uivo de lobo e riso de besta, quando a criatura foi vista pela primeira vez.

Nenhum comentário: