domingo, 19 de julho de 2009

Ideograma inveterado

Victor Rocha Nascimento

Todos têm uma história, desde contos de fadas nos olhos até as duras marcas de vida no corpo. Desde os sonhos e mais loucas fantasias espirituais até os traumas trancados rigidamente por devastadores medo e culpa.

Partindo do ponto de vista, de saber procurar, toda história se torna boa e todas as pessoas já passaram por situações magníficas. No fim tudo é interpretado, são derivações dos olhos e da imaginação. Depende das palavras, do jeito, do momento, do ruído... Depende da vontade de quem conta e da disposição de quem escuta.

Tudo na vida é uma crônica, contanto que bem escrito ou bem contado. Um café da manhã, um quarto desarrumado, um jogo de futebol, um passeio e até uma ideia louca, um desabafo ao papel. E como faz bem desabafar pra ele.

Não tem amigos? É muito tarde para ligar? Uma idéia? Um desatino que incomoda pela madrugada, expulsa o sono e martela a mente? É simples, basta escrever (seus problemas de insônia acabaram! Rá!). Assim como é simples se ocupar e embriagar de imaginação com a leitura. Nada melhor que um bom livro para tornar o ser mais criativo (e essa criatividade , se mal controlada - mais idéias na madrugada, meu caso atual-, pode piorar sua insônia, mas não vou me embolar nisso).

Nestes dias de desocupado (podendo-se ler "descanso", porém creio ser inapropriado), vivo de sair e ler e escrever. Nada como ter uma boa roda de amigos. As idéias são cuspidas quase atropelando umas às outras, cada um com suas histórias, com suas vidas. Nada como ter bons livros para se preencher de novas idéias e fazer das antigas mais interessantes. Nada como unir tudo que leu e discutiu e poder escrever livremente, chegando ao ponto de não saber mais como parar. É algo como se esvaziar do peso das informações e ser preenchido pelas mesmas, de forma mais suave. É ruminar as idéias.

Quanto aos amigos, descobrimos grandes universos em cada um. Bibliotecas lidas e relidas em uma noite de boa companhia. Descobrimos em nós mesmos, dentro de nossas vivencia e observações diárias, imensos estudos e teorias fantásticas, que só recebem o devido valor quando resolvemos parar para pensar nelas.

Logo, o bom escritor não é aquele com maior experiência de vida, tão pouco o que viveu de forma inesperada e inconseqüente e apenas transcreve seus grandes feitos. O escritor se torna notável no momento em que sabe escrever. E não se deixe enganar pela gramática. Ele é bom escritor assim como um bom professor é aquele que sabe explicar e não o que puramente domina a matéria.

Toda boa história se torna boa apenas ao ser contada, antes disso, ela sequer existe.O melhor dos escritores pode tornar tudo interessante. Ele sabe como contar a vida com graça, sabe tornar a leitura saborosa, comover o leitor. Ele une a história à ideia.

É assim. Toda ideia é boa se for bem idealizada!

E a vida? A vida tem o papel fundamental de, em toda sua plenitude, ser a única inspiradora.

2 comentários:

Deise disse...

este texto me surpreendeu. Não havia observado até então sua veia comica e ao mesmo tempo sarcástica.
Uma maravilha criativa, consigo ao ler, visualizar este texto se transformando em um roteiro para teatro. Não há como ter idéia da conclusão, até o parágrafo final.
Parabéns. Adorei, sua criatividade tem se superado a cada novo texto, este em particular me agradou muito, pela estrutura tão bem elaborada, pela comicidade e pela forma literária. Você vai longe, Deus está contigo.

Jess Weiss disse...

me lembra "Peixe Grande"!