quarta-feira, 29 de julho de 2009

Exatamente como outra qualquer

Victor Rocha Nascimento

Era uma noite como outra qualquer. Lá fora, o mundo caótico das incertezas e a guerra diária pela soma da vida. Eu estava em meu escritório, seguro, porém mais próximo da guerra do que poderia aparentar. Meu emprego estava na incerteza de um bom texto.
Um inverno tenebroso soprava, empurrando minha persiana, o que resultava em um barulho absurdamente irritante e me impossibilitava o bom uso do pensamento. Eu estava trabalhando até mais tarde, com a certeza de que nada me incomodaria naquele início de madrugada a não ser minha própria incompetência. Mas foi neste momento, o menos esperado, que ela apareceu, entrando de forma avassaladora em minha sala.

Linda e conquistadora, com uma sedução quase profissional, daquelas que só se tem com muita prática. Andava com uma volúpia estonteante no corpo e um convite ao pecado nos lábios.
Ela me vinha com soluções, e não com problemas. Mais uma coisa a qual tive que me render e admirar. Não é sempre que invadem seu recinto para presenteá-lo com notícias boas.
Boas? Quem sabe? De pessoas assim, não se pode esperar nada.

Ainda que a tentação me corroesse, me mantive firme, tentei lutar. Mas no momento eu estava tão fraco... O peso do mundo havia pairado sobre mim e a inspiração me abandonado a tempos. Restava a obrigação da manhã e as malditas persianas chicoteando a parede.
Eu era um universo de problemas e ela me parecia tão bela, e vinha com tantas respostas.

Há de se entender. Em um momento de total nervosismo e desespero, recorremos às atitudes mais loucas, sem pensar nas consequências que poderão acarretar. Basta escolher e sentir o breve alívio da solução.
As soluções são drogas e todos somos viciados nelas. O estresse é a abstinência.
Pessoas de carne, osso e coração me entenderiam. As leis não.
Mas de que importam as leis que duram anos de incertezas comparadas ao pão de amanhã?

Me faltava inspiração. Me faltava um texto para dali a algumas horas. E ela parada na minha frente, me oferecendo uma saída. E como ela era linda, sedutora. Me fazia respirar ao prender a respiração. Tornava a noite mais quente, tornava certo o errado, me tornava dependente e mais frágil enquanto eu não conseguia desgrudar olhos e mente de sua beleza.

Finalmente, antes de decidir aceitar a ajuda, lavei a cara, dei um ultimo gole de café e perguntei seu nome.
Ela respondeu: "Me chamam de Plágio".

2 comentários:

disse...

HAHA podia jurar que o nome dela ia ser "maria juana"

Victor Rocha disse...

hahaha, cheguei a pensar nisso também... hahahaha