quarta-feira, 15 de julho de 2009

O ultimo espetáculo

Victor Rocha Nascimento

Uma cambalhota, duas e...

- Pula, pula! Corta a corda! Amarra! Atira! Acaba!
O povo pede, o palhaço obedece. Nada o faz mais feliz do que ser o centro das atenções, ser o rei do espetáculo. Nesse mundo novo, sua graça já não tem vez e resta procurar outros meios, ainda que o meio seja o fim.

- Pula, pula! Se joga! Morre logo! Covarde! Vai dar para trás?
O povo pede, o palhaço teme. Talvez o espetaculo não tenha que ter um fim, possa ser uma mentira, uma piada, mais uma palhaçada. Mas assim, o povo sai triste e não volta nunca mais. O palhaço pensa e sabe que é o momento de voltar a ser grande aos olhos do público ou de perder para sempre sua graça.

- Pula, pula! Vai logo! Agora vai ter que terminar!
-Acho que ele não vai.
- Claro que vai! Ele não tem mais motivo para existir. Eu posso apostar que vai!
As apostas se iniciam, o público ferve aos seus pés. O palhaço lembra do tempo em que isto era rotineiro e se depara com a realidade cruel do presente. Ele se anima, ainda que em pranto, por esta ultima oportunidade. Ele se empolga e encara a morte. Ele descobre que é melhor um fim alegre que uma seqüencia triste. E como fazer graça para os outros se o próprio palhaço não é feliz?

- Pula, pula! Será que agora vai? Não posso esperar o dia todo, tenho que trabalhar. Só mais um pouco e acho que ele vai!
Se não viver para o público, para que viver? No embalo da vida, se o mundo muda, o espetaculo tem que mudar. Se a platéia muda de gosto, o palhaço tem que mudar de palhaçada. É a regra, é a lei. Motivo de sua existência, sua tradição. Ser a graça maior das multidões. Este conceito é mais forte que tudo para ele, é a essência de sua vida. Também, não é nenhum grande esforço se submeter a isso, é o unico jeito que ele sabe viver.

Ele para... Respira... Se ajeita... Lembra de algumas piadas... Sorri de sua própria história... E vai.
Não poderia ser diferente. A platéia não pode ficar esperando e o show tem que continuar. O palhaço fez sua ultima graça, e acabou com toda a palhaçada.

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