quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quebra na pedra (Mais noites e lembranças complicadas)

Victor Rocha Nascimento

Deparei-me com aquela espuma de algodão golpeando a velha pedra. Quanto mais a água quebra o tempo passa e, como sempre, incomoda. Não são sentimentos novos nem velhos. O que eu senti foi uma saudade do tempo em que eu ainda não era descrente.
Saudade de imaginar que daria certo... Saudade de acreditar que poderia ser simples assim.
O sol morrendo nos meus olhos, como havia sido noutro dia. Não me atrevi a colocar os pés diretamente na pedra. Sei lá, não achei justo. Fiquei sentindo o tempo que passou e me arrebunhando com o que mudei.
Temos que ser masoquistas para aprender a viver. Não há como mudar sem se deixar ferir e não há nada mais corriqueiro do que as mudanças. Não que seja trágico, mas é só o que se tem.
Não agonizo em tristezas ao me deparar com a desilusão. É diferente. Desengano é crescimento, te fazer mais forte, mais maduro. O problema é não poder suportar o peso da triste realidade que nos convêm. É foda quando notamos que, às vezes, temos que encarar um mundo que não o nosso. Esse aí de fora... O mundo mútuo. Mundo dos outros. Mundo de todos comuns.
O cheiro do mar, a hora... Tudo igual, salvo pela solidão que foi fundamental para contrastar os momentos. Senti-me espectador de um filme antigo, uma bobagem de criança. Não sei mais o que quero e nem se tenho que querer alguma coisa. Talvez por medo e por fraco que sou não queira só deixar rolar. Talvez medo novo, filho de um sofrimento banal. O susto de ser apunhalado pela felicidade.
Medo de ser um idiota, de me sentir um idiota, de não estar fazendo o que é certo.
Medo de que a memória me falhe por conveniência.
Sofrer não. Do sofrimento aprendi a não ter medo e sim respeitar. Meu medo maior é que pelo descuido das emoções eu regrida, seja iludido pela fertilidade dessa cabeça vazia.
Me arrastar pela areia até essa maldita pedra não me fez mais fraco por ela. As lembranças que me tocaram foram mais alem. Me fizeram pensar em todas e sobre me cuidar para não cair em novos enganos. Não tenho como saber se a imunidade que recebi está a favor ou contra um final menos trágico.
Verdade que não consegui ficar por muito tempo nesse lugar que tanto me afeta, mas não adiantou. A cisma já estava instaurada e agora o que me resta é respirar e pensar bastante... Ou não.

2 comentários:

disse...

:)
pensa não.

Jéssica Quadros disse...

Lembrei de uma música do Lenine. Esse texto tem cheiro de maresia...