quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Veleidade

Victor Rocha Nascimento

Que menina é essa, sem cheiro e sem cor?
Que é essa força que me rasga num olhar de vento e me leva pro mar numa cantoria limpa e sem tom? E essa delícia sem saliva nem sexo. Essa mulher de carinhos frios, tato morto.
Quem é ela, que me dobra e que ainda sem me conhecer, corrompe onírica?
Com que sagacidade dribla meu tempo e se veste em outras peles só pra me atazanar?
Que futuro é esse que te serve de refúgio e que tanto espera para se fazer presente? Porque não pular as etapas, que não servem pra nada, e se entregar num gesto gasto para mim?
Que perfeição é essa que só existe num caminho de meios, e se preserva escondida na ponta mais fina?
De mente dispersa escuto teu choro, teu grito, te velo e te namoro sem nem mesmo saber sua graça ou de onde cê vem.
Queria eu poder ver, te beber, te respirar, te consumir. Queria ter esse poder, espiar pelas frestas do tempo, das certezas e dos sonhos amantes, e, por instante, ter tranquilidade de que um dia vai existir.
Quem é essa que se anuncia a todo instante e me injeta esperanças à deriva de uma passarela que insiste em crescer?
Ô mocinha esperta, sem boca, nem cabelo e nem brilho. Ô mulher danada que me excita de suspense e se demora pra essa hora não marcada, pra esse ponteiro já quebrado que se fez enferrujado de tanto te esperar.

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