sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O mais batido de todos

Victor Rocha Nascimento

Tenho que confessar que não é um assunto que me anima muito. Falar do amor e tentar explicar já é tão banal, tão comum, que não vejo mais grande utilidade nisso, sobretudo para um ultraromântico assumido como eu. Mas, pelo andar das coisas, acho que se um dia vou ter que falar disso, é melhor falar agora, que estou privado de qualquer tipo de influencia. Pois é, estranhamente, não estou apaixonado. Ah, e mais estranho ainda... Não sei se quero ou não estar (o normal seria não querer).
Digamos que me vejo mais lúcido agora que não tenho ninguém que me anime muito e nem mesmo que me encha os olhos (ando mais carnal que nunca) e, pelo que me conheço, é melhor aproveitar logo o momento. Sendo o caso outro, tantos já se dedicaram a falar de seus amores e seus sentimentos, e já falaram tão bem, tão melhor do que eu poderia e ainda assim não puderam se comparar com o real sentimento, que eu não me atreveria a tentar.

Pois bem, estando em um momento incomum, talvez valha a pena. Não sei bem do que falar... Mas deve ser uma coisa entre um estudo frio e uma recordação carinhosa do que já passei.
Por um tempo, cansado de sofrer por garotas que mal sabiam meu nome, ou que achavam melhor me chamar "amigo", e essas coisas que todos nós já passamos, imaginei essa história de amor como uma doença, um vício, e me orgulhava de falar muito mal dele para todo mundo que passava, na procura ingênua de um remédio. Uma coisa sem sentido que de uma hora para a outra agarra na gente e que temos que tentar nos curar. Pois é, acho que esta idéia não era errada em sua totalidade (Ironia ter, nesta época exata, encontrado o maior amor que já sentir e ser correspondido por algum tempo).
Não sei bem o que faz essa loucura toda começar. Alguma afinidade, uma necessidade, uma esperança... De algum ponto parte e, depois, resta à nossa própria carência completar o fado. Não há outro sentido ou explicação. Somos tão frágeis, carentes e sonhadores que depositamos de uma vez, em uma só pessoa, tudo o que esperamos para nossas vidas. Partindo disso nos decepcionamos constantemente, o que não poderia ser diferente. Ninguém jamais poderia ser tão perfeito quanto desejamos, como podemos imaginar e como dizemos aos ventos em nossas paixões.

Ah, não vou me embolar ao tentar explicar o que penso de amor e paixão, apenas que são coisas muito distintas mas que compartilham suas bases. A paixão ocorre de forma infinitamente mais regular do que o amor. O amor é um apego absurdo e sem fundamento onde você deveras pensa mais na outra pessoa do que em você mesmo, é o bem querer puro e divino. Já a paixão é coisa totalmente egoísta, igualmente sem grandes fundamentos, onde se acredita que a pessoa tem que ser sua e ponto, ainda que o infectado por ela (paixão) não possa notar isso, o que é outro sintoma.

O amor faz falta. E acho que só agora, de cabeça fria, posso notar isso. Parece que se tem muito a oferecer e ninguém para receber. Todo um potencial desperdiçado. Falo por mim... O que é um ultraromântico sem um amor? Sem um referencial? Nada.
Então posso falar de boca cheia que as lamúrias do amor são bobagem. Só se reclama do amor por estar totalmente infantilizado e mimado pelo mesmo, um outro sintoma (dá para fazer uma lista). "Oh, como eu queria não estar apaixonado". Besteira. Nada é melhor do que estar apaixonado, mas com isso vem o problema de nunca poder ser correspondido da mesma maneira. Sejamos lógicos, isso é absurdamente improvável, mas é melhor não ficar achando impossível. Comparado ao que se sente, é um problema mínimo.

Na faculdade eu aprendi que o amor não passa de um mito. "O mais belo dos mitos já criados" segundo o professor. E para falar a verdade, faz muita lógica, e eu acredito fielmente nisso, o que é muito fácil. Me falta sentir. Mas também, se mito ou não, não faz a mínima diferença. Que graça tem não levar o amor a sério? Mais uma ironia: Agora que estou 'curado' (temporariamente, creio), não sei mais se é tão ruim estar doente.

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