terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mais hora, menos hora...

Victor Rocha Nascimento

-Tenho paciência e sei esperar. Mais hora, menos hora, a tua hora vai chegar - Dizia o relógio apertando o pulso do jovem rapaz, quase fundindo rádio e ulna. Contraia as artérias, impedia o fluir do sangue e parecia anunciar um leve esmigalhar de ossos.


-Ora, quem é você para dizer ou desdizer qualquer coisa? Não passa de um relógio! Nada além de uma ferramenta criada para me servir. -Retrucava o jovem, apoiado no vigor da idade e caminhando longe das responsabilidades. - A minha vida está só no começo e vai demorar muito para encontrar um fim.


-Não poderia concordar com tal afirmação, tão pouco juizada. Como deve ter esquecido, não sou, tão somente, um simples objeto de faxada. Não me limito ao metal dos ponteiros nem à tinta dos números, muito menos à atadura emborrachada que te aperta e prende. Sou o próprio Cronos, sei o que fez e o que pretende. Sou rei do que era e do que será. Mando na leveza da gravidade ao empurrar o suicidado no concreto e da mesma forma mando que a gravidade seja forte parar assegurar que a beleza da folha custe a tocar o piso, sendo assim, melhor admirada. Eu faço o novo se tornar velho e o dia ser de sol ou chuva. Sou eu quem dita as regras e tu te limitas a subordinar, sem direito a retrucas.


-Agora é o senhor, digníssimo rei, que se apressa ao falar. Não sabe, pois, que foi o homem autor do tempo e que como seu criador se torna também seu mestre? Se quisermos podemos decidir viver como hippies anarquistas e o tempo de nada nos servirá.


-Se equivoca falando nisso, meu caro. O homem não tem controle do nascer do sol e nem da lua, tão pouco da vida, ou da morte. Logo, não controla o tempo e muito menos é seu fundador. Por sorte! O Tempo é criação única e exclusiva de Deus e apenas Ele, se assim desejar, pode intervir. Caso outro, eu comando e nada podes fazer, se não te acomodar.


-Se falamos nas leis de Deus, ao homem é dada a possibilidade da vida eterna. Como pode ver, seus argumentos apenas ajudam a minimizar sua própria importância, caro Cronos. Deve tomar mais cuidado com a possível pena de meter os pés pelas mãos, com tanta petulância. Se o próprio tempo é temporário, o senhor não tem controle nem de si mesmo. De nada serve, beira a inexistência, o desuso. Todo poder que pensa que tem é só o que nós lhe dignamos ao bel prazer, coisa pouca.


-Vejamos então, na verdade dolorida dos dias, quem é o senhor da nossa relação. Criação e criador pouco importam. Quem manda e quem obedece só se sabe ao observar a prática. Posso eu, muito bem, não ter o poder que digo, nem o que penso ter, mas não podes escapar de minhas prenuncias, e as certezas e verdades absolutas que te rogo vão com júbilo te corromper. No mais, não ligo. Tenho paciência e sei esperar. O tempo vai passar e tu nem vais ver. Em meio aos atrasos, aos encontros, às mudanças, aos cronogramas e horários, sempre vou estar observando, rindo e lembrando. Mais hora, menos hora, a tua hora vai chegar. Pois bem, deixe para lá, já que até a finada hora, te resta apenas aproveitar.

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